16 julho 2012

Aço autorregeneravel?


Tradução de uma interessante matéria do jornal alemão Die Zeit. A matéria faz um resumo dos últimos desenvolvimentos em ligas de aço conformáveis para a indústria automobilística.

Link para a matéria original: Stahl, der sich selbst repariert


 

Alumínio, magnésio e fibra de carbono: há muitos anos já se fala e escreve sobre materiais mais leves para a indústria automobilística, parece que o bom e velho aço está fadado ao esquecimento. O número de alternativas inovadoras cresce em estudos e carros-conceito e também em modelos de série.

Porém o aço ainda compõe mais de 50% dos veículos, sendo com vantagem o material mais importante da indústria automotiva. Mas o aço também sofreu várias modificações nos últimos anos. Através de adição de metais como manganês, níquel e cromo os fabricantes de aço adaptaram seus produtos às demandas dos automobilistas.

Fazer o material e consequentemente o veículo mais leve, para reduzir consumo e emissões, é o objetivo principal. Mas isso não é tudo, os pesquisadores querem melhorar outras características das carrocerias. Ela deve se deformar de forma controlada em uma colisão, absorver muita energia e não se romper.

A solução está na estrutura cristalina

Os pesquisadores concentram-se na estrutura cristalina, ou seja a organização espacial dos átomos nos minúsculos cristais que se formam após a solidificação. Essas estruturas definem as propriedades dos materiais. Já a algum tempo o chamado efeito Trip está em foco. Trip significa transformation induced plasticity, o que traduzido fica "plasticidade induzida por transformação".

Aços Trip já estão disponíveis no mercado a mais de dez anos. Eles se caracterizam por uma grande resistência mecânica de até 700 MPa. Para comparar: um osso quebra sob uma tensão de 230 MPa. Os aços Trip deixam-se deformar até 35%. Isso não é suficiente para os especialistas em aços, também pelo fato de que a capacidade de deformação é praticamente toda "consumida" no processo de conformação.

Pode-se entender isso da seguinte maneira: Chapas de carrocerias são na sua maioria conformadas em processos de embutimento e estiramento. Para isso são colocadas em uma prensa e estampada conforme desejado. Quanto mais conformável o material, mais fácil será a estampagem na prensa sem se romper. Nos aços Trip já o processo de estampagem leva a um aumento de resistência na estrutura cristalina do material. Se a chapa de aço é novamente submetida a esforços, como por exemplo em uma colisão, a mesma se deixa deformar muito pouco. A carroceria fica com uma reserva de capacidade de deformação de apenas 5% disponível.

Nanotecnologia aumentando a conformabilidade dos aços

Um liga manganês-alumínio-silício deixa o aço mais conformável. Com essa liga os pesquisadores do Instituto Max-Planck para Pesquisas do Ferro Max-Planck-Institut für Eisenforschung (MPIE), de Düsseldorf, fazem seus experimentos. Eles fazem uso de pequenas falhas na estrutura cristalina, as chamadas maclas. Esse termo descreve um tipo de defeito cristalino, no qual os cristais podem se reorientar. Com isso surge um plano de espelhamento com orientação cristalina invertida. O fenômeno é denominado maclação e dá ao material características especiais de conformabilidade.

Os resultados obtidos com os novos aços Twip são promissores. Sobretudo aço com 15% de manganês, 3% de alumínio e 3% de Silício se mostrou extremamente resistente e conformável em laboratório, com valores de resistência de até 1100 MPa.

Metal autorregenerável

Como material leve para os veículos de amanha os pesquisadores do MPIE estão desenvolvendo também os aços Triplex. Neles são adicionadas nanopartículas de carbono. O produto é ate 10% mais leve do que os aços Trip e Twip, porém muito mais resistentes e conformáveis. Mas, antes do material poder ser aplicado industrialmente é preciso resolver alguns problemas. "Apesar de todas suas qualidades o material também tem uma desvantagem", diz o chefe do MPIE Dierk Raabe. Se ele é zincado usando galvanização, hidrogênio atômico pode penetrar no material, causando fragilização.

Olhando mais para o futuro ainda está uma pesquisa na qual os especialistas de Düsseldorf e de outros institutos estão trabalhando: materiais autorregeneráveis. O exemplo vem da natureza. Ossos que sofrem micro-trincas devido a batidas se regeneram sozinhos. A pessoa normalmente não percebe o processo, pois o corpo elimina o problema por si só.
Em ciencia dos materiais isso seria feito atraves de minusculas capsulas de material adesivo. Se micro-trincas surgem devido a fadiga do material, as capsulas se rompem, o adesivo flui e preenche as trincas. Por enquanto não é possível implementar a ideia nos aços, somente em materiais compósitos. Porem em um futuro não muito distante eles querem adicionar essas propriedades autorregenerativas também ao aço.

06 julho 2012

A Babilônia da estampagem! Parte I

Existe muita confusão quanto aos termos utilizados para definir processos de conformação de chapas. Assim como acontece no linguajar do dia a dia, os termos técnicos também estão sujeitos a regionalismos, variam de uma região para outra e às vezes até de uma empresa para outra.

Algumas palavras estão já tão arraigadas que, se fossemos utilizar o termo tecnicamente correto, acabaríamos sendo pouco ou mal entendidos. Por isso é importante clareza na hora de conversar sobre o assunto, para ter certeza de que as partes estão falando da mesma coisa.

Consultando diferentes livros podemos ver que nem mesmo na literatura técnica encontramos uma uniformidade de denominações para os processos em língua portuguesa. Ao contrário da língua alemã, onde os termos são muito bem definidos inclusive pelas normas, aqui encontramos várias denominações para o mesmo processo, criando verdadeiros "dialetos técnicos".

Um bom exemplo é a "NBR5902-Determinação do índice de embutimento em chapas de aço pelo método Erichsen modificado". Neste ensaio é medida a altura máxima do corpo de prova sob a ação de um punção esférico, em condições de estiramento e não embutimento! É uma grande diferença, pois no estiramento ocorre tração biaxial e no embutimento ocorre tração e compressão. Ou seja, a norma ao invés de ajudar, atrapalha, aumentando a confusão dos termos. Muitos estudantes já vieram me perguntar o porquê de a norma ter esse nome, e é chato ter que dizer que a denominação da norma está incorreta...

"Estampo" e "estampagem" também são termos que podem gerar confusão. No Sul do Brasil, o termo "estampo" é usado para se referir ao Corte por Cisalhamento (também denominado Corte por Arrombamento).
Por exemplo: 

"Precisamos estampar os furos = precisamos puncionar os furos"

ou:

"Ferramenta de estampar o contorno = ferramenta de cortar o contorno"

Isso pode parecer inofensivo, mas fiquei sabendo de um caso onde uma determinada empresa estudava adquirir uma nova prensa para "estampagem". Para os técnicos da empresa estava claro que se referiam a uma prensa para realizar principalmente corte. O fabricante da prensa era da região Centro-oeste do Brasil, e lá entende-se estampagem como conformação de chapas em geral. Ou seja, não só corte! E na hora de escolher a prensa isso faz uma grande diferença. O mal entendido foi descoberto a tempo, mas as negociações já estavam avançadas...

Outra história sobre "estampagem": quando eu estava fazendo mestrado participei do Curso de Estampagem (de chapas) ministrado pelo laboratório para engenheiros e técnicos da indústria. Num desses cursos vieram de longe três engenheiros de uma certa empresa. O problema é que a empresa deles fabricava parafusos, e eles chamavam o processo de conformação da cabeça do parafuso de "estampagem", que não tem nada a ver com conformação de chapas.  Como o curso era de estampagem, conformação de chapas, eles não conseguiram aproveitar muita coisa... Imagino qual foi a resposta deles quando o chefe perguntou como tinha sido o curso...

Ah, lembro também que minha mãe sempre brincava que eu trabalhava com estampagem - de tecidos hehehe (ela gostava muito de costurar).

É preciso tomar cuidado...



04 julho 2012

Design automotivo: concepcao do BMW série 6

 Segundo os designers da empresa, o ato de criação das formas de um BMW é algo movido pela emoção. Antes de se pensar na técnica as formas nascem em um processo criativo que está mais perto da arte do que da engenharia.



O video abaixo mostra como a concepção das formas de uma carroceria moderna acaba conectando arte e engenharia, gerando as formas e geometrias que posteriormente serão o ponto de partida para o projeto das ferramentas de conformação. 



O carro ficou lindo, mas poucos consumidores pensam nas dificuldades que existem na estampagem das carrocerias dessas máquinas. 

Fonte: http://carros.uol.com.br/ultnot/2012/06/21/bmw-650i-coupe-e-fera-de-413-cavalos-com-olhar-de-conquistador.jhtm

Dica do Cristiano Leme, valeu!