Bem no início a tecnologia de fabricar o
ferro tinha um efeito pequeno nas culturas em que estava presente. Muito dos
utensílios de ferro primitivos faziam essencialmente o mesmo que os de bronze
ou cobre. Mas, quanto mais esse material era usado, mais os ferreiros aprendiam
como melhorar suas propriedades. Com o tempo, três métodos de transformação de
ferro em aço foram criados: aço ondulado e martelado (watered or pattern-welded steel),
wootz e damasco verdadeiro.
Aço ondulado e martelado (watered or pattern-welded steel)
Aço martelado foi o método
mais comum usado na antiga Europa, Japão e mais tarde nas Filipinas. Explicado
de uma forma simples, pequenas barras de aço macio eram forjadas, juntando-as
com aquecimento até altas temperaturas e martelando os pedaços ate soldá-los,
repetindo esse processo por diversas vezes ate atingir tamanho e dureza
suficientes. Dobrando e soldando os pedaços repetidas vezes aumenta-se a dureza
do aço através de aumento no teor de carbono. Esse era um processo longo e
tedioso e muitas pecas eram perdidas antes de ficarem prontas, por excesso de
aquecimento e quebra. Camadas de aço macio e mole criados por esse
processo são responsáveis pelo aspecto ondulado presente na superfície. Quando
menor o numero de camadas, mais largas são as ondas. Algumas espadas japonesas
possuem ate 36000 camadas, sendo muito difícil discerni-las a olho nu!
Wootz
Também
é importante citar que o wootz usado na fabricação do aço damasceno original não
era fabricado a partir de dobras e martelamento, era na verdade um dos
primeiros exemplos de aço de alto carbono homogêneos. Uma das qualidades do aço
que os indianos fabricavam era que quanto mais alto o teor de carbono mais baixo
é o ponto de fusão. Muitas culturas enfrentavam dificuldades na fabricação do
aço devido a alta quantidade de calor necessário para chegar ao ponto de fusão.
Para liquefazer o ferro completamente é necessário muito mais calor que os
processos de aquecimentos da época conseguiam produzir. Os indianos colocavam o
ferro bruto em cadinhos hermeticamente selados, junto com um tipo especial de
carvão e aqueciam os mesmos em fortes fogueiras. Na medida em que o ferro
absorvia o carbono dentro do ambiente selado, seu ponto de fusão ia baixando. Quanto
menor seu ponto de fusão, mais carbono vai sendo absorvido, gerando um circulo
vicioso que resultava em um aço de alto teor de carbono homogêneo e com
relativamente boa qualidade. Dobra e martelamento para cementar o aço não eram
necessários. Os padrões das laminas fabricadas a partir do wootz são causados
pela grande quantidade de cementita na estrutura desse aço.
Damasco verdadeiro
O último método a ser descrito
aqui é o damasco verdadeiro. O mais famoso e mal entendido método de produção,
o Damasco ganhou sua fama na Europa e mundialmente devido às campanhas das
Cruzadas. Existem muitas lendas em torno do famoso Aço Damasceno, todas
relacionadas à sua fantástica flexibilidade e capacidade de ser afiada. Uma
dessas lendas refere-se ao encontro entre Ricardo Coração de Leão e Saladin (a
propósito, dizem que eles nunca se encontraram de verdade). De acordo com a
lenda, Ricardo, querendo impressionar os Muçulmanos, cortou em dois uma grossa
barra de ferro com um único golpe de sua larga espada. Saladin, ao invés de
mostrar qualquer temor, arremessou um lenço de seda no ar e cortou o mesmo em pedaços
com sua lamina de damasco. De acordo com outra lenda, uma lamina de damasco era
tão flexível que um homem poderia, com uma mão em cada extremidade, curvá-la ao
redor do corpo, e quando solta a lamina iria ficar reta novamente. Mas qual é a
diferença entre a fabricação desse aço e a do aço martelado ou aço wootz?
O verdadeiro aço Damasceno, tradicionalmente
fabricado na cidade de Damasco, era produzido da seguinte forma: Aço bruto de
baixo carbono era martelado em laminas muito finas. Uma pilha dessas lâminas
feita e mantida junta com arames. Em um cadinho, aço com alto teor de carbono
era aquecido até derreter. As pilhas de laminas de aço com baixo carbono eram então
mergulhadas no aço de alto carbono derretido. O aço frio então “sugava”, por ação
de capilaridade entre as lâminas da pilha, o aço derretido. Com isso o aço das
laminas era parcialmente fundido, soldando as laminas em uma massa sólida. Essa
massa era “forjável” (por martelamento) por um curto espaço de tempo, sendo
martelada para dar forma enquanto ainda estava quente.
Um grande problema de laminas fabricadas
dessa forma é que elas não podem ser reaquecidas e reforjadas como o aço martelado
e o aço wootz. Devido ao teor de ferro fundido, quando uma lamina de aço damasceno
é reaquecida, uma batida com martelo faz com que ela se quebre em vários pedaços,
como descobriram os ferreiros europeus quando tentaram reforjar algumas espadas
trazidas pelos cruzados. Portanto, após o martelamento grosseiro feito ainda com
o calor do ferro fundido, o único trabalho a fazer na lamina era retífica, afiação
e polimento. Como esse trabalho final se dava por remoção de material, as
camadas internas eram reveladas, criando padrões ondulados responsáveis pela confusão
na identificação correta desses processos.
Três fatos são ainda dignos de nota com relação
a esses processos:
Primeiro: no Damasco Verdadeiro o fio de
corte não é uma aresta contínua e sim serrilhada. Os padrões ondulados na lamina
eram causados por camadas moles e duras (baixo carbono e alto carbono) de
metal. Com a afiação da lamina as camadas mais moles são retiradas mais
facilmente que as mais duras, deixando um fio serrilhado microscópico. Esse fio
corta materiais moles mais facilmente que um fio continuo, mas na tem boa resistência
contra armaduras já que os pequenos dentes tendem a quebrar, cegando o fio
rapidamente.
Segundo: o minério de ferro existente na região
da cidade de Damasco possui um percentual de 7% de um mineral chamado Wolfram
na idade média. Hoje chamamos esse mineral de Tungstênio e hoje ele é usado
para fazer os melhores aços do mundo. Isso significa que os ferreiros da região
de Damasco foram, sem saber, os primeiros a fabricar aços ligados.
Terceiro: Damasco Verdadeiro parou de ser
produzido no século 14 quando o conquistador Tártaro Tamerlão (Timur) invadiu a cidade de
Damasco e capturou todos os ferreiros de lá para trabalharem para seu exército.
A cidade nunca mais se recuperou como centro metalúrgico depois disso.
Agora que você sabe um pouco mais sobre esses antigos
processos metalúrgicos, preste mais atenção da próxima vez que você ver uma espada.
Você pode se surpreender com o que verá.
Fontes:
http://www.tf.uni-kiel.de/matwis/amat/def_en/articles/road_to_damascus/sword_forum1.html
http://www.tms.org/pubs/journals/JOM/9809/Verhoeven-9809.html
http://www.tf.uni-kiel.de/matwis/amat/def_en/articles/very_british/body_part1_damascene.html
Fontes:
http://www.tf.uni-kiel.de/matwis/amat/def_en/articles/road_to_damascus/sword_forum1.html
http://www.tms.org/pubs/journals/JOM/9809/Verhoeven-9809.html
http://www.tf.uni-kiel.de/matwis/amat/def_en/articles/very_british/body_part1_damascene.html