06 julho 2012

A Babilônia da estampagem! Parte I

Existe muita confusão quanto aos termos utilizados para definir processos de conformação de chapas. Assim como acontece no linguajar do dia a dia, os termos técnicos também estão sujeitos a regionalismos, variam de uma região para outra e às vezes até de uma empresa para outra.

Algumas palavras estão já tão arraigadas que, se fossemos utilizar o termo tecnicamente correto, acabaríamos sendo pouco ou mal entendidos. Por isso é importante clareza na hora de conversar sobre o assunto, para ter certeza de que as partes estão falando da mesma coisa.

Consultando diferentes livros podemos ver que nem mesmo na literatura técnica encontramos uma uniformidade de denominações para os processos em língua portuguesa. Ao contrário da língua alemã, onde os termos são muito bem definidos inclusive pelas normas, aqui encontramos várias denominações para o mesmo processo, criando verdadeiros "dialetos técnicos".

Um bom exemplo é a "NBR5902-Determinação do índice de embutimento em chapas de aço pelo método Erichsen modificado". Neste ensaio é medida a altura máxima do corpo de prova sob a ação de um punção esférico, em condições de estiramento e não embutimento! É uma grande diferença, pois no estiramento ocorre tração biaxial e no embutimento ocorre tração e compressão. Ou seja, a norma ao invés de ajudar, atrapalha, aumentando a confusão dos termos. Muitos estudantes já vieram me perguntar o porquê de a norma ter esse nome, e é chato ter que dizer que a denominação da norma está incorreta...

"Estampo" e "estampagem" também são termos que podem gerar confusão. No Sul do Brasil, o termo "estampo" é usado para se referir ao Corte por Cisalhamento (também denominado Corte por Arrombamento).
Por exemplo: 

"Precisamos estampar os furos = precisamos puncionar os furos"

ou:

"Ferramenta de estampar o contorno = ferramenta de cortar o contorno"

Isso pode parecer inofensivo, mas fiquei sabendo de um caso onde uma determinada empresa estudava adquirir uma nova prensa para "estampagem". Para os técnicos da empresa estava claro que se referiam a uma prensa para realizar principalmente corte. O fabricante da prensa era da região Centro-oeste do Brasil, e lá entende-se estampagem como conformação de chapas em geral. Ou seja, não só corte! E na hora de escolher a prensa isso faz uma grande diferença. O mal entendido foi descoberto a tempo, mas as negociações já estavam avançadas...

Outra história sobre "estampagem": quando eu estava fazendo mestrado participei do Curso de Estampagem (de chapas) ministrado pelo laboratório para engenheiros e técnicos da indústria. Num desses cursos vieram de longe três engenheiros de uma certa empresa. O problema é que a empresa deles fabricava parafusos, e eles chamavam o processo de conformação da cabeça do parafuso de "estampagem", que não tem nada a ver com conformação de chapas.  Como o curso era de estampagem, conformação de chapas, eles não conseguiram aproveitar muita coisa... Imagino qual foi a resposta deles quando o chefe perguntou como tinha sido o curso...

Ah, lembro também que minha mãe sempre brincava que eu trabalhava com estampagem - de tecidos hehehe (ela gostava muito de costurar).

É preciso tomar cuidado...



Um comentário:

  1. Que interessante,estou utilizando este blog como material teórico para o TCC

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